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André Avelino Coelho Advogados Associados, escritório especializado em Direito Eleitoral, Direito Público e Direito Penal Público.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

propaganda, urna e famosos

Passada a eleição debruçamo-nos na análise dos indicadores da eleição, notadamente, em que pese o efeito Tiririca, observamos que a fama não foi sinônimo de voto; interessante que esse dado, refaz uma série de estratégias eleitorais colocadas em pauta nesse pleito que, provavelmente, não será seguida nas eleições municipais.
O movimento de politização dos famosos se deu com a proibição do abuso de poder econômico, proibição de outdoors e limitação da imprensa, com essas dificuldades, nas últimas eleições ficou mais fácil para aquele que já era conhecido, artistas e celebridades, que circulavam anteriormente pelas mídias, principalmente a televisiva, serem vistos como bons postulantes aos cargos eletivos: a facilidade de conhecimento prévio aliado a participação desse nicho do entretenimento, elegeu-os em proporções bastante grandes; o problema se deu quando o artista, a personalidade, depois de eleito, ultrapassa o mundo imaginário do entretenimento e agrega a sua imagem a idéia comum da política. O artista não consegue manter essa "máscara" diante seus pares e ao público se mostra da forma que a instituição o vê: incompetente para o cargo.
Se, ao votar no artista, o eleitor entregava seu voto à um sensação meramente emocional, em que os atributos da escolha são pautados no "gostar" (da imagem, da música, ou do programa), com a posse, o leitor começa a reconhecer no detentor de cargo eletivo o descrédito generalizado da classe política e a acentuada inabilidade; via de regra o famoso mantém-se na mídia mas é cobrado, além da sua atividade artística, das suas convicções políticas anteriormente desconhecidas. Eis o inicio da desconstrução.
Nessa mesma esteira o espaço entre a convivência do eleitor e do eleito aumenta, além de não se sentir representado, o artista/político não consegue estar presente na comunidade: continua distante da rua e das atividades de prestação de contas do mandato. Sua presença pública ainda é tratada como entretenimento e sua preposições políticas são legadas ao segundo plano; na maioria das vezes não apresenta propostas e seus cabos eleitorais são, na verdade, fãs.
Nessa ausência territorial cresce a ascendência dos políticos tradicionais, àqueles que participam da vida da comunidade, que se prestam ao assistencialismo e contam com cabos eleitorais reais. Essa formula política cria raízes com a população eleitora de forma que a entrega ao voto se dá por uma sensação de "grupo", trata-se da aplicação eleitoral de parte da "teoria de fato social": segundo Durkheim, existe uma solidariedade onde os indivíduos se identificam através da família, da religião, da tradição, dos costumes, as pessoas reconhecem os mesmos valores, os mesmos sentimentos, os mesmos objetos sagrados, porque pertencem a uma coletividade. O artista visto pelo fã não possui atributos de coletividade, de religião nem de família, portanto não o representa.
A baixa votação da maioria dos candidatos famosos é o reflexo dessa articulação entre falta de reconhecimento e a penetração dos candidatos reais.

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